1.18.2011

Os cabelos revoltos da inteligência

Se você reparar bem, todo mundo com alta inteligência tem uns cabelos meio revoltos. Olhe o Discovery Channel, ou o History Channel, não tem um cientista, se não for careca ou engelzado (existe essa palavra?), que nao tenha cabelo revolto. Mesmo que seja um rodamoinhozinho do lado, ou no cocuruto; ou uma franja que teime em cair na testa (o que também parece fashion entre o povo que pensa). Uma coisa! Claro que todos conhecem o ícone maior da dicotomia inteligência-cabelos revoltos: o Einstein. Que cabelos eram aqueles, super revoltos, crescendo pra cima! Rapaz, nem com chapinha aquilo pararia quieto.

Daí, fiquei toda feliz quando vi meus cabelos super volumosos na semana passada. “Devo estar ficando inteligente”, pensei, mas daí me dei conta de que só não estou prendendo tanto como antes, daí os danados estão respirando livres, e então se levantam, felizes, mas não significa que minha inteligência seja grande. Fiquei meio triste e fui ler um Aristóteles pra ver se entra algo nessa minha cabeça. Ou se pega no susto.

Minha única esperança, agora, é ficar bonita; não dizem que os donos ficam parecidos com seus cachorros? Então, minha cachorra é loura de olhos azuis, linda...

1.12.2011

O que se deixa pra trás é o que mais dói...

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Acabei de ver um filme da minha terra, e a protagonista, Lilia Cabral, lá pelas tantas, perde uma amiga dela desde sempre. Vi e chorei. E pensei na minha amiga Baby. E chorei mais ainda.

Imigrar é uma coisa estranha. Me pareceu a melhor opção, mas para o que veio comigo e o que ficou, eu não estava preparada. O problema de imigrar é que você tem de deixar sua história pra trás. As partes ruins, você deixa com prazer, mas as partes boas, ah, essas doem. Foi o caso dessa minha amiga. Vendo o filme, eu vi o espelho de nossa amizade, vi que tivemos/temos uma amizade bem parecida, vendo roupas juntas, passando por dificuldades e alegrias, brigando, passando cremes, morrendo de rir, dançando (paixão de nós duas); mas não tenho minha amiga aqui para conversar sobre o hoje. Nem ela me tem lá. Interrompemos nossa história quando eu imigrei. Claro que tenho outras amizades, algumas quase tão intensas, mas aquela tem um passado. Amizade daquelas que se diz: "lembra?" ou "você era..."

A Baby me ligou quando sua mãe faleceu. Eu ainda morava lá. Em um momento tão descabelado, eu fui a pessoa em quem ela pensou e isso foi muito honroso pra mim. E eu fui para o lado dela. Mas e agora, se outro alguém de nossas vidas se vai, teremos à mão o telefone da outra? Pensaremos na outra? Isso dói pensar.

Quando fui ao Brasil, retomei minha conversa com ela no ponto onde havíamos deixado. Não há hiato, apenas continuamos, como se desapertássemos a tecla pause de nossa conversa. Apenas agora eu tenho mais coragem de dizer-lhe meus sentimentos abertamente, dizer que a amo, que ela é minha melhor amiga.
Se eu interrompi nossa história, pelo menos agora eu tenho coragem de dar-lhe o tamanho exato de sua importância e talvez por isso, ainda seguimos construindo uma história à distância, intercalada e intermitente, mas firme e profunda como sempre. Uma amizade repaginada, reformada, imigrada.

12.22.2010

Que sentimento é esse?

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Nesses dias que antecedem o Natal, me acomete uma tristeza, uma melancolia que não sei explicar. Não sei se é a falta da família, ou se é a falta de dinheiro. Definitivamente é falta de alguma coisa. Não sei se isso é um sentimento tão grande porquê sou imigrante, ou se todos se sentem assim.


Meus pais envelhecendo, meu filho seguindo com sua vida, o marido estrangeiro em seu próprio país, não sei. Sei que sinto muito as mudanças pelas quais passei, de ser uma menina super entusiasmada com tudo dessa época, ao adulto que sou hoje, vendo o mundo com uns olhos cheios de esperanças, mas um tanto descrentes. Sinto muito pelas bobagens que vivi, minhas e dos outros. Sinto pelas idiotices e tolices dos caminhos que percorri, minhas e dos outros. Sinto muito, isso tudo me transformou de maneira definitiva e que não me apraz.

Definitivamente, não sei o que é, mas dói bastante e me ressinto um pouco de não estar me sentindo bem. Hoje especialmente. Queria estar livre, ser livre para me sentir daquele jeito de novo. É porquê é Natal, ou porquê me sentiria assim mesmo? Talvez, essa melancolia não tenha, afinal, nada a ver com Natal. E luto firmemente contra a lágrima que quer escorrer em público.

12.07.2010

Just would like to feel alive

I can’t simply go. I got all my commitments to complete: texts to write, house to tender, husband to love. And this meaningless, endless job to do. All that external, but today the only thing I want to do is go away. I wish I could go to Bolinas or similar, watch the fog and the ocean, smell the salt water, feel the breeze, shriver, very very cold, but ALIVE. I just wanted this, so simple, so cheap, but fundamental to sanity.


12.01.2010

Onde se encontra a ética?

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Se a ética está desvinculada do ato de servir aqueles que mais necessitam, onde está a ética então?
Se a ética se ausenta das atividades feitas em prol de outros e do próximo, onde está a ética?
Se a ética não é encontrada nas atividades públicas de pessoas públicas, e mesmo em suas atividades privadas, que deveriam ser as norteadoras de suas atividades públicas, onde está a ética?
Se a ética é deixada de lado a cada momento em que o interesse pessoal fica ameaçado, onde está a ética?

Me pergunto, dinate de tanta falta de ética que vejo, se há esperança de se operar nesse mundo com decêndia e ética, com justiça e coragem de mostrar o que se pensa, com a força daqueles que operam pelo único e maior objetivo de um mundo melhor.

Se eu não pensar que isso possa ser uma realidade (do futuro), não saberei operar nesse mundo de pulhas e idiotas de caras bonitas e sem ética onde tenho de viver.

Reflitam.

10.21.2010

My myth

I can see through my veil,

A mix of unknown feelings

Eating me alive

Every single day



I hear the noises of my doubts

And debate with the other options,

As if they were witches

Ready to take me to a place I don’t wanna go.



I don’t know what is there for me,

I don’t know there,

And I don’t know me.

I am the woman with a veil.



What will come after I cast myself off,

I am not really interested,

But I sure want to know

If I will keep my sanity to safely sail away.

9.29.2010

No Gabinete

 

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Há algum tempo atrás escrevi esse texto, tentando acreditar que às vezes, as pessoas no poder não sejam más, apenas sem capacidade de saber e tomar conta de tudo, ou que o jogo político sozinho, leva a sujeiras. Pode ser, mas não acho mais que seja assim. Acho que é tudo feito de maneira pensada e isso me deixa muito irritada.
Me escrevam , dizendo o que acham.
 

No gabinete

O dia passou rápido e a noite chegou mais fria que o esperado. O céu estava limpo, e assim permaneceria por muito tempo, segundo a meteorologia. As estrelas pipocavam na escuridão do cerrado de inverno. A vidraça luzidia do arquiteto genial mostrava o mundo lá fora sem muitos mistérios.

Os faróis e as buzinas dos carros ao longe indicavam as horas, nem precisava olhar o relógio. Fim de expediente, os prédios da Esplanada dos Ministérios apagavam suas luzes aos poucos, trazendo uma escuridão triste.

Nas salas do lado de fora do Gabinete, porém, as luzes ainda estavam todas acesas, uma multidão de assessores, secretários, assistentes e aspones percorriam os corredores com papéis empilhados e pastas de documentos inúteis. Os telefones tocavam sem parar, com a irritante campaínha usual.

Afrouxando a gravata, sozinho, o Presidente olhou uma vez mais o horizonte familiar. Estava ali há tantos anos, sonhara tanto com isso tudo, só que hoje o sentimento estava um pouco diferente. Que as coisas não eram exatamente como ele havia pensado no passado militante, que as mudanças não eram tão fáceis como havia planejado, isso ele já sabia. Mas hoje o problema era perturbador. Daqui, não sabia mais para onde iria, que direção tomaria. A nação tinha vícios e artimanhas mais profundos do que ele previra. Havia defendido assessores diretos, pessoas queridas mesmo, amigos de longa data, de coisas que seus valores não lhe permitiriam fazer nunca, mas que essas pessoas fizeram. Alegou não saber de muita coisa, fingiu-se de morto em tantas outras, viajou o que pôde, aproveitou sua vida de presidente tão desejada. Mas estava em falta consigo mesmo.

Hoje, olhando a cidade da janela do gabinete, tinha se dado conta do lado negro que se negara a ver todos esses anos. Sempre achou que a imprensa exagerava, mas como defender agora essas pessoas e essa imundície que o cercava por todos os lados. De onde vieram todos esses vermes ao seu redor? Ou melhor, quando eles se transformaram em vermes?

Ainda sentia um amor grande pelo seu partido, mas não reconhecia mais as pessoas ali. Entendeu, nos anos de presidência, todos os seus colegas anteriores, tão duramente criticados por ele de impotências e incompetências. Aqui, já cansou de ver os olhares de menosprezo dos embaixadores de carreira para si; do deboche das esposas desses em relação às mãos ásperas da primeira dama, sua mulher; os acordos cerrados que jogariam o país no lixo e que ele nada podia fazer, sob pena até mesmo de morrer; das mentiras que engoliu e das mentiras que cuspiu.

Andou até sua mesa esfregando as mãos e bebeu um pouco do uísque doze anos que estava no copo e lembrou-se que também debochavam de seu gosto pelo alcóol. Mas não havia como estar ali sem alguma coisa que lhe adormecesse os sentidos de vez em quando. De trabalhador braçal que tinha sido, ao terno bem cortado e ao carro com motorista que o cargo lhe dava, havia pisado em alguns de seus valores mais básicos, mas era o preço de estar ali. E queria estar ali. Mas lá no fundo, essa inversão de valores ainda incomodava e muito.

Daqui a pouco sairia do gabinete para falar sobre as prisões do banqueiro, do investidor e do ex-prefeito, mas não tinha certeza se queria que essas declarações que lhe instruiram fossem as suas. Havia conversado com o Secretário de Gabinete, havia lido e relido os memorandos secretos da Polícia Federal com os detalhes da operação, havia sido instruído pelos seus colaboradores mais confiáveis sobre todos os detalhes que a imprensa e o público ainda não conheciam, se é que conheceriam. Tinha que considerar também aquele ministro do supremo com sede de poder. Teria de dar uma declaração sobre o tal telefonema, teria de proteger seu governo.

Mas o que o cidadão que ele era queria mesmo era dizer tudo, dizer que eles eram todos culpados, que a conversa foi assim mesmo, que os rombos eram ainda maiores do que a imprensa havia dito, que muito mais gente do Banco Central estava envolvida, que os Supremo estava envolvido, que o mensalão era verdade, tudo, queria dizer tudo, queria esclarecer as CPIs, queria acabar com essa conversa mole de político corrupto a que se submetia, sem ser. Ele não era assim, ou assim pensava.

Estava só, havia conseguido estar só em seu gabinete por uma hora inteira e gostaria de ficar mais. Gostaria de ir ao Park Shopping e ao cinema com a primeira dama, gostaria de jogar bola em um campinho de várzea, gostaria de jogar conversa fora naquele bar de São Bernardo do Campo com os companheiros do jeito que eram antes, não do jeito que são hoje. Gostaria de dormir sem ninguém de prontidão por perto. Gostaria de ser ele de novo, de escolher as suas próprias roupas, de comer sardinha frita e de desfrutar tantos outros prazeres simples. A presidência tinha esse preço alto, deixar de lado as outras coisas da vida. Ele era Presidente em tempo integral. Mas que o uísque de boa qualidade não lhe dava dor de cabeça, isso era verdade.

Alguém bateu na porta e lhe disse, do lado de fora, que a imprensa estava pronta e que ele deveria sair em poucos minutos; outra voz lhe disse que estava tudo pronto, que não poderia atrasar... Ele respondeu um “já vou” sem convicção.

Foi até o reservado e olhou no espelho. Estava muito velho para isso tudo, cansado disso tudo. Ajeitou a gravata, vestiu o paletó. Pegou os óculos em cima da mesa, colocou no porta-óculos e enfiou no bolso interno do paletó, poderia precisar.

Muitas vozes do lado de fora da porta, outras batidas, outro chamado. Ele não respondeu, andou até a porta, parou, respirou fundo por um minuto, pensando que só mais alguns anos e não precisaria mais mentir, não precisaria mais ser outra pessoa, voltaria a ser ele mesmo, pai, avô, marido, companheiro. Sorriu com cumplicidade para as fotografias dos outros presidentes na parede oposta, abriu a porta e entregou-se aos abutres que o aguardavam.


9.23.2010

Um mundo reciclado ou mera preguiça de criar?

 

Às vezes me parece que vivemos num mundo onde tudo é reciclado. Não no sentido green (e bom) da palavra, mas no sentido de reprocessado, refeito, re-mastigado e requentado e servido para consumo como novo.
Músicas, filmes, ideias dos outros sendo reprocessadas sob rótulos modernistas como "releituras" ou "reedição". Por quê há escassez de ideias e criatividade? Sabemos muitas das possíveis respostas e isso poderia virar um debate enorme, mas às vezes me parece que há apenas uma preguiça ancestral por trás disso.

Criar o novo, o novo caminho, a nova ideia, dá trabalho, toma tempo e gera esforço mental, daí as pessoas andam somente nas trilhas já marcadas pelos passos dos que vieram antes.
Isso, às vezes, me cansa e me irrita.

Voltarei à esse tópico para desenvolver mais.


8.30.2010

Few Haikus

Soft, weightless
The butterfly kisses the bloom-
Stress is gone.


The moth is quietly eating
Someone’s memories
in old armoires


Pats, pats and pats,
Splashes, splashes, and splashes:
Dog on the beach



Cherry blossom in Washington
Poppy blossom in California
Spring in USA.

8.27.2010

Considerações sobre o encantamento

Caminhando distraidamente pelos cotidianos atarefados que temos, pouco vemos das belezas que nos florescem pelo caminho. Como aquele violinista na estação do metrô em Washignton, D.C.. Joshua Bell, um dos maiores do mundo, tocando, e pouquíssimas pessoas perceberam a beleza da coisa. Na verdade, só uma mulher percebeu e parou para ouvir com calma. E várias crianças, que foram sumariamente, ou puxadas pelos pais apressados, ou tiveram um ou dois minutos pra admirarem aquilo, enquanto os pais não prestavam atenção. Faltou-lhes encantamento.

São Tomás de Aquino disse que a filosofia nasce do encantamento, e que portanto, o filósofo e o poeta são próximos por serem grandes na questão encantamento. Essa é a importância do encantamento. Quantas coisas perdemos por não não encantarmos mais nessa vida! E na cultura da maior parte do Brasil, encantar-se é ser bobo, ficar “abestado” com alguma coisa é coisa dos pouco educados, dos bobos, dos infantis, e assim vai aquela horda de gente tentando paracer “cool” , sem se permitir encantar-se com nada...’olha lá a boba, toda animadinha com um filminho de nada...”. Então criticam tudo e todos, porque não é “cool” mostrar interesse ou excitação com nada. E assim, esses pobres desditosos caminham sem fazer de seu cotidiano poesia, vivendo uma vida beige por medo de não ter os tons certos, mesmo que gostem das outras cores! E a poesia? E a felicidade que nasce da beleza das coisas?

Que perda cotidiana! Que tolice! É tão lindo encantar-se com uma letra de música, com uma melodia, com um poema ou obra de arte, com o seu filho brincnado, com o sol que nasce... É tão lindo mostrar os sentimentos mais nobres que fazem de nós seres humanos. É tão lindo ser humano.